Sou uma solteira eterna. O que eu faço de errado?

julho 18, 2011

O Machado de Assis contava que, certa tarde, um bispo foi à casa de um amigo militar tomar um guaraná. No meio da conversa, ao escutar o anfitrião rir do filho, perguntou-lhe o motivo. Ouviu sobre o que havia sucedido naquela manhã. A manhã em que menino, deitado na rede, “caiu de costas e quebrou o nariz”…

A partir daí, o garoto cresceu como se amaldiçoado, diante dessa dolorida impossibilidade, desse dolorido destino: o de tudo dar errado, o de ser uma vítima da existência, o de “cair de costas e quebrar o nariz”. Portanto, uma vida toda azar, no amor, no trabalho, nas amizades. Ah, moças, o destino cruel…

Destino cruel uma ova!

Quando escuto essa questão de estar sempre sozinha, ouço todo tipo de hipótese: é sempre um lamento. Você, encalhada, estaria fazendo algo errado. Os homens são cegos que não observam, que não valorizam. A concorrência – as outras mulheres – oferecem algo misterioso e negativo, algo que você jamais faria e ofereceria. O universo é injusto…

UMA PAULADA NO MEIO DO CAMINHO

O amor é pra ser difícil mesmo. É pra ser uma caminhada e requer uma sorte dos diabos. Não tem chegada. Fracassar também faz parte. Recomeçar, mais ainda. Acho – e vou até o fim achando – que o encontro de dois seres é um milagre desses mais geniais. Desses que, desbotados, merecem todo um corpo técnico de restauradores. Um casal feliz é um teto sistino e banalizado, uma obra de Michelangelo que a gente nem repara mais.

E por isso mesmo, se o encontro de dois seres é um milagre, a manutenção, a sobrevivência desse encontro, na forma de um casamento, de um namoro, de qualquer coisa que dure, é um milagre vezes dois.

O que isso quer dizer? Quer dizer que milagre é dureza, minha amiga… Daí que rabisquei aqui num papelinho a minha psicologia de botequim pra te ajudar a sair dessa. Ó:

1) Preste atenção na autossabotagem. Freud explica, Jung discorda e o Lacan, que beleza!, ninguém entende, mas o fato é que muitas vezes, com medo de embarcar num romance, a gente procura aquelas pessoas que não querem nada com nada. O canalha só é feliz porque você o deixa feliz. Abana essa nuvem preta de cima da cabeça, mulher!;

2) Quando a gente está só e quer amar, o mais fácil é olhar pra todo mundo e achar que esse mundo todo está casando, tendo filhos, sendo feliz, tomando foras mas vivendo. E que só você permanece fora do jogo… Ora, nada mais errado. A solidão da sexta-feira à noite é fenômeno que une o grego e o troiano, o goiano e o paulistano. O ser humano simula muito, mas a verdade verdadeira é que, dentro dessa nossa capa de confiança, todo mundo vive essa solidão compartilhada. Você definitivamente não está só. Tem pelo menos mais umas sete bilhões de solidões circulando por aí…

3) E lembre-se sempre: mais do que tudo, o amor é sorte. Estar na esquina certa, dando o esbarrão certo. E isso, moças, como eu disse, é o território do milagre. O grande problema em achar que você faz algo errado, em encarar a vida amorosa caindo de costas e quebrando o nariz, é que você se torna chata. Chata! Todo homem percebe de longe e sai correndo diante de uma torneira vazando rancor e negatividade. Mulher que já entra na boate sabendo que vai perder, perde. “Não ser feliz, tudo explica”, dizia o mineiro.

Tem uma dúvida cruel? Escreva para falecomele@edglobo.com.br

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