Carimbó nas alturas: Entrevista com Pinduca

setembro 12, 2014

Por Rubens Elias*
Especial para o blog

O município de Santarém teve muitos motivos para comemorar na noite de 11 de setembro. E como! A primeira razão deve-se à abertura do Festival do Çairé, na Vila de Alter do Chão, com a colorida disputa entre os botos Rosa e Tucuxi. A segunda, a elevação do carimbo – ritmo musical e dança popular – à Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em Brasília. A terceira deu-se com a presença do mestre Pinduca na abertura do Çaíre, com seu ritmo de carimbó e lambada. Santarém comemorar a elevação do carimbó como patrimônio imaterial das culturas que compõem o mosaico identitário do Brasil foi quase como um presente. Presente dos ritmos, das danças e do desejo do Pará em ter uma de suas danças devidamente reconhecidas pelo Estado. 

Santarém tem longa tradição na arte de carimbolar. Seja na esfera do folguedo – com inúmeros grupos de dança – quanto na de músicos que compõem músicas de carimbó, como o aclamado Roda de Curimbó, da Vila de Alter do Chão, que há muito vem reivindicando o reconhecimento do carimbó como patrimônio imaterial do Brasil. Diferentemente do carimbó tecido na região de Belém, cujo ritmo é marcado pela presença da guitarrada, o carimbó do oeste paraense é marcado pelos sons indígenas, o que somente demonstra a riqueza musical e cultural que tece os ritmos musicais no Pará, quiçá, Amazônia. A seguir, uma conversa que tive com o mestre Pinduca, após a calorosa e animada apresentação na abertura do Çairé:


Rubens Elias: Nesse momento que o carimbó recebe o título de Patrimônio Cultural do Brasil, o que representa essa homenagem para você?

Pinduca: Para mim representa muita coisa... minha vida artística foi construída cantando os ritmos do carimbo... uma alegria para todos que cantam o carimbó (fala nesse momento com ênfase). Por exemplo, o carimbó aqui de Santarém é maravilhoso, de um ritmo bastante próprio e que o próprio Pará desconhece... a região do Salgado (região do nordeste paraense que tem longa tradição de carimbolar), não conhece as coisas que são feitas aqui e que são muito importantes.

R.E: Por que o carimbó demorou tanto para receber esse título, que por tão óbvio já deveria ter sido feito?
P: No Brasil inteiro quando se fala em carimbó logo se associa a Pinduca... assim como o forró é associado a Luiz Gonzaga, por exemplo. Claro que isso termina atrapalhando as coisas porque muita gente boa produz material rico e farto musicalmente. Há muito se tenta elevar o carimbó a patrimônio cultural do Brasil... O problema, assim vejo, é que o pessoal de raiz nunca aceitou meu trabalho, pois não consideravam de raiz... (pausa). Quando os pedidos baixavam em Brasília, lá não constava meu nome... 

R.E: Qual o desafio para Pinduca, nesse momento da carreira?

P: Eu vou continuar cantando carimbó. É a minha vida isso... já cantei na França, Alemanha, países da África... E é sempre uma alegria vir cantar em Santarém, melhor ainda estando presente no Çairé, vi esse festival nascer, o que é muito bom ver hoje a proporção de está tomando.

Pinduca se apresentou na noite de ontem (11/09) no Espaço Alter do Chão.

* É doutor em Sociologia pelo PPGS - UFPB; professor e jornalista.


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